Tenho deixado os dias passarem. Me deitado e não me arriscado. Amarga, ansiosa, todos os dias. Esperando sempre o que está por vir. Sem sentir o agora.
Hoje,
em plena avenida Paulista, espero o ônibus e me deparo com
um cara, no meio da avenida, na pista de ciclistas, onde cada lado da avenida, os carros se cruzam em direções contrárias. O vento bagunça seu cabelo. E ele
não está na faixa. Ele não está na faixa. Está pacientemente, naquela avenida
esperando para atravessar o lado que falta, dançando, com fones de ouvido,
enquanto os carros o cruzam em velocidade.
E eu estou aqui, parada, ansiosa, com o peito apertado para o ônibus chegar, para eu ir em pé, para eu chegar logo em casa, me deitar.
E eu estou aqui, parada, ansiosa, com o peito apertado para o ônibus chegar, para eu ir em pé, para eu chegar logo em casa, me deitar.
Eu poderia estar olhando o céu, sentindo o vento ou curtindo uma música
também. Eu poderia olhar mais para as pessoas. Eu poderia ler. Eu poderia não
pensar em nada.
Só estar aqui, no hoje.
Só estar aqui, no hoje.
Não é possível que ele consiga atravessar.
Ele nem sequer se importa para nada, para ninguém, o tempo, os
carros.
Então em uma pausa, ele atravessa. E já do outro lado,
dança, canta ainda mais.
E se vai,
com os passos apressados, no ritmo da música.
Eu não sei quem ele é, mas o moço de camisa listrada, me
mudou completamente.
E ele sequer sabe. Porque ele é só dele.
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